Incêndio na ala esquerda do Mercado Público de Florianópolis

O dia 19 de agosto caiu em uma sexta-feira que deveria acabar com uma tradição para vários florianopolitanos: Uma cervejinha no Mercado Público emoldurada pelas figuras clássicas e habituais que o freqüentam. O problema é que no fim da tarde de sexta não tinha mais mercado.

Um dos mais famosos cartões postais e patrimônio histórico da capital catarinense estava interditado devido a um incêndio que começou por volta das 8:00h na sua ala esquerda, a mais antiga. As chamas só foram controladas uma hora e meia depois pelo Corpo de Bombeiros.

O prédio do Mercado foi construído em frente à Alfândega em 1898, sendo ampliado em 1915, tornou-se um ponto de encontro de populares e trabalhadores de várias procedências, credos e classes por conta do comércio e bares que abrigava.

Mais um exemplo de contradição na Ilha de Santa Catarina: em contrapartida da multiplicação de shopping centers caros e sofisticados, o descaso de décadas das autoridades perante a conservação do patrimônio histórico e cultural catarinense, pois o estado precário em que o Mercado Público se encontrava (e se encontra) tem sido lembrado por entidades que atuam no meio há anos.

Uma causa, muitos motivos

A causa do incêndio só será confirmada após a conclusão da perícia. Os comentários indicam que seu início teria sido em uma lanchonete após o derramamento de óleo de uma frigideira, o fogo teria se alastrado com facilidade por conta do material dos produtos comercializados no mercado (tecido, madeira, borracha, e até fogos de artifício).

Segundo a Vereadora Ângela Albino (PCdoB), “a causa poderia ser qualquer uma, fiação elétrica exposta, madeira sem proteção, etc.”, referindo-se ao estado de conservação do local, que inclusive foi alertado pela “Associação dos Comerciantes do Mercado” em audiências públicas na Câmara Municipal. “Se no mercado que não tinha gente foi isso, imagina nos prédios públicos sem condições? Se para alguma coisa servir, serve para refletirmos isso”, lembra a vereadora.

Não houve vítimas fatais, mas prejuízo econômico para 300 trabalhadores, 68 comerciantes e cultural para toda a população catarinense, que, como Dona Mári, nascida e moradora da comunidade Mont’ Serrat por 58 anos sentia “dor pelo patrimônio da cidade”.

Dona Mári se encontrava bem na frente do mercado desde as 7:00 horas e testemunhou com suas colegas do brechó da “Casa Assistencial do Mont’ Serrat” (uma tenda erguida próxima ao Mercado Público) o início do incêndio “começou a sair fumaça, olhamos para dentro e vimos as chamas”. Assim como apontou alguns problemas no combate ao fogo “a mangueira era fina, pouca água, houve demora para os bombeiros chegarem, veio outro caminhão com outro tipo de mangueira, com um jato mais forte”. O caminhão com o “outro tipo de mangueira” era o da Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero), que emprestou a sua viatura que possui um tipo de mangueira mais potente. O jato d’água foi aplaudido pelos cidadãos aflitos que assistiam ao incêndio.

Renascer das cinzas
Os governos municipal e estadual estão estudando as medidas para contornar a situação dos lojistas prejudicados e a captação de recursos para a restauração do Mercado Público. O Vereador Márcio de Souza (PT) propõe através de sua newsletter as seguintes medidas:

* Que o Prefeito Municipal adquira e instale módulos, à semelhança do Camelódromo, servindo como Box, na vizinhança do Mercado Público, para que as atividades comerciais sejam restabelecidas com brevidade, enquanto a reconstrução acontece;
* Que o Instituto de Geração de Oportunidades e Emprego de Florianópolis (IGEOF) estude a possibilidade de intermediar a abertura de créditos emergenciais – junto aos Bancos – para os (as) comerciantes que necessitarem.
* Que o IGEOF, SUSP, SECRETARIA DE OBRAS e IPUF assumam os trabalhos de restauro e recuperação da atividade comercial no Mercado Público Municipal;

Várias lojas da rua Conselheiro Mafra (do lado incendiado do Mercado) ligadas à Comunidade Árabe de Florianópolis fecharam as suas portas no restante do dia em sinal de solidariedade pelo sofrimento dos lojistas prejudicados, pois muitos deles também pertencem a esta comunidade. Outras lojas da região fecharam simplesmente por que faltou luz.

Gago em Ação

No meio da multidão que assistia atônita ao acontecimento, um carrinho se destacava e ao mesmo tempo confundia-se com os dos bombeiros, pois era vermelho e com a tipografia semelhante, porem escrito “Ilha da Magia, operação verão, Gago em Ação”.
Era do Gago, um vendedor de água e refrigerante que circula a ilha inteira (mas é encontrado mais facilmente na Praça XV) com seu carrinho que chama de “Ferrari”, pois é pintado, adaptado e cuidado como uma.

Gago chegou antes dos bombeiros, e provavelmente deve ter saído bem depois. Pelo menos para alguns, a sexta-feira literalmente quente não foi apenas de prejuízo.

 

Texto originalmente oublicado no SARCASTiCOcomBR: http://bau.sarcastico.com.br/index.php?mod=pagina&id=2360

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