Ziraldo sempre foi um artista multimídia com uma marca inconfundível nos seus cartuns, charges, textos, cartazes e livros. Com o seu falecimento no último domingo (7/4), um “tsunami de afeto” inundou as redes sociais e a mídia no país, como descreveu a cineasta e diretora teatral Daniela Thomas, filha do desenhista, em entrevista ao Fantástico.
Uma das características pessoais mais bacanas do Ziraldo era a simpatia. Por mais referenciado e solicitado que o cara fosse, sempre se manteve acessível. Toda vez que ele pisava em Florianópolis, lá ia o jornalista e fã Daniel Ludwich entrevistá-lo para o SARCASTiCOcomBR, portal alternativo que eu editava com Evandro Duarte e mais uma galera, na época.
São inúmeras referências e homenagens feitas ao criador do Menino Maluquinho, com releituras e citações de sua obra. Por isso queria destacar um dos seus trabalhos que mais me marcou, principalmente na juventude, que foi essa série de cartazes para o Instituto Nacional de Câncer, em 1987, divulgada nacionalmente através do Programa de Oncologia.
Em uma época que a influência da indústria do tabaco corria solto no Congresso Nacional e na mídia, os lucros altíssimos dos proprietários dessas empresas só contrastavam com a explosão de óbitos por câncer. Pela primeira vez no país a imagem inadequada sobre um hábito tão nocivo foi contestada de forma bem humorada e eficiente. Tão eficiente que o próprio Ziraldo parou de fumar depois dessa produção.
A veiculação dessas artes repercutiu por muito tempo. Não era incomum se deparar com uma dessas caricaturas em postos de saúde e locais públicos. Ainda no começo dos anos 2000, quando ia entregar alguns estudos de marca para um projeto de artes marciais do Pedro Paulo, conhecido como Peu no Programa de Antitabagismo (ou algo do tipo), onde ele também trabalhava, saía de lá com esses cartazes para distribuir por aí feliz da vida. Devo ter alguns guardados ainda.
Os cartazes do Ziraldo contra o fumo foram premiados pela Organização Mundial de Saúde e a campanha abriu caminho para a criação da Lei nº 10.167/2000, que regula mais rigidamente a lei 9.294/96, ao restringir a propaganda exclusivamente aos pontos de venda. Os detalhes dessa história podem ser conferidos no site do Ministério da Saúde.
Sempre lembro desse material quando penso em exemplos de campanhas que unem arte, humor e boas causas para mudar a vida das pessoas. Valeu por mais essa, Ziraldo.