Cultura Catarinense: Tragicomédias em cartaz na Arte e na Política

Por si só, a sinopse de UZ já apontava que o espetáculo teatral da companhia La Vaca prometia: “uma tragicomédia que aborda as relações entre família, sociedade e religião”. Em tempos de Bolsonaros e Felicianos, toda forma de discutir o fundamentalismo religioso na sociedade é mais do que bem-vinda. Mas não é sobre Estado Laico que vou escrever dessa vez. E nem sobre a peça do dramaturgo uruguaio Gabriel Calderón, que superou as minhas expectativas e recomendo a todos. A peça está novamente em cartaz nos dias 11, 12 e 13 de abril.

O assunto aqui é tragicomédia. Não as que ganham cada dia mais público nos palcos catarinenses, mas a que está em cartaz no estado há décadas. A tragicomédia política.

2014-04-01 21.37.15Pouco após os aplausos de UZ, a produção do espetáculo pediu atenção para a leitura de uma carta de reivindicações dos servidores em greve da Fundação Catarinense de Cultura (FCC). Uma representante do grupo, que estava panfletando na frente do TAC, antes da peça leu o documento.

A greve foi iniciada dia 13 de Março e, segundo informações da fanpage  oficial do movimento “Quanto vale a Cultura?” é motivada por correções salariais e reformas nas políticas públicas para o setor cultural. Tanto os servidores da FCC quanto os da Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte (SOL) – outro órgão que afeta diretamente a cultura em Santa Catarina – aderiram à greve do funcionalismo público no Estado.

O que chama a atenção nas declarações e manifestos dos grevistas é a crítica a falta de uma política pública sólida para a área. Críticas ouvidas há anos nos protestos da sociedade civil, sendo a “Ocupa CIC“, em 2012, a última com maior destaque.

A capital, assim como outras cidades catarinenses, tem recebido em seus palcos o resultado dos projetos contemplados com o Edital Estadual Elisabete Anderle. Espetáculos de qualidade e a preços populares como “Olho Azul da Falecida“, e os estreantes “Spollium” e “Eu Confesso” são exemplos práticos do retorno para a sociedade de mobilizações como greves, ocupações ou mesmo ações como a Invasão Teatral, que realizou de forma independente inúmeras apresentações em Florianópolis. Todas elas querem a mesma coisa: Uma política pública para a cultura comprometida com os anseios da comunidade cultural catarinense, sejam produtores, sejam servidores.

O que esperar de um governo que trocou várias vezes de secretário de Turismo Cultura e Esporte? O que se pode esperar de uma administração que não cria uma secretaria específica para a área e que, como a própria La Vaca sentiu na pele no caso da peça Kassandra, é conhecido por uma série de atitudes equivocadas em relação a cultura?

Em tempo

Enquanto o Governo estadual não resolve o impasse com os grevistas, os artistas e produtores culturais precisam exercer a criatividade para além de suas áreas de atuação. É o caso do espetáculo “Feliz por nada”, que, mesmo com a greve dos técnicos dos principais equipamentos públicos do estado, está terceirizando serviços para manter a programação.

Portanto, mesmo que você não seja produtor ou servidor público, apoie a cultura catarinense prestigiando espetáculos, exposições e filmes. Governos passam, a arte fica.

 

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